Cerca de 20 profissionais entre produtores rurais e pessoas-chave da Secretaria do Meio Ambiente de Mairiporã e do Conselho de Desenvolvimento Rural participaram em dezembro (11) da capacitação Agroecologia – produção sustentável no Sistema Cantareira, em Mairiporã. A ação integra o projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.

A capacitação realizada em Mairiporã teve início com o panorama do Sistema Cantareira apresentado pela coordenadora de educação ambiental do projeto Andrea Pupo. “A resiliência do Sistema Cantareira não é mais a mesma dos anos 1970. Estudos mostram que o volume de chuva na região fica dentro da média. A exceção recente é conhecida por todos como o período da crise hídrica 2013-2015. Quando o assunto é o Sistema Cantareira as principais mudanças se referem ao uso do solo na região que compromete a resiliência”.

 

 

 

Na região, 46% do solo é ocupado por pastagens em geral degradadas e 15% por eucalipto. As florestas estão presentes em apenas 35% da área. “Diante desse cenário, um desafio é aumentar a produtividade e a renda das pessoas que vivem na região, por meio de ações baseadas na natureza, como pastagem ecológica, silvicultura de nativas, agrofloresta e restauração florestal”, destaca Pupo.

Karin Hanzi, especialista em agricultura sintrópica, do Epicentro Dalva, aproveitou a oportunidade para pontuar a importância das árvores para o gado, uma vez que as pastagens são frequentes no entorno do Sistema Cantareira. “Vacas são animais que pertencem à borda da floresta e por isso elas precisam de sombra. Elas realizam um trabalho lindo de aumentar a floresta se alimentando das sementes das árvores e devolvendo essas sementes de maneira espalhada para o ambiente”.

Andrea Pupo ressaltou o incentivo ao Sistema Silvipastoril nas pastagens ecológicas. “É dessa forma que os animais podem obter conforto térmico já que a temperatura sob as árvores é menor. A recomendação do projeto é a de que os piquetes tenham árvores”.

Cultivar o solo

Agricultura sintrópica, segundo Karin Hanzi, vai além da produção dos alimentos, a questão-chave está em se preocupar com a qualidade do solo durante todo o período, de forma que ele tenha maior produtividade ao fim de cada ciclo de cultivo. “Precisamos entender o básico da natureza que é como aumentar a energia do sistema. O objetivo é garantir a produção, mas ao mesmo tempo constatar que o solo está mais produtivo quando comparado ao início de cada cultivo”.

 

Nesse contexto, segundo Karin Hanzi, temos papel fundamental. “O ser humano é uma enzima que acelera a sucessão, por meio da poda ele maximiza a fotossíntese, já que cada planta tem uma necessidade de luz, que muda inclusive de acordo com a fase do desenvolvimento. O acúmulo de biomassa é outra característica da sintropia”.

O que a agricultura sintrópica faz é acelerar a regeneração. “Entender a relação entre a alteração hormonal e a poda economiza energia e acelera o crescimento. Na prática, 10 anos de agricultura sintrópica correspondem a 200 anos de sucessão natural. Apenas 2 anos revelam resultados que podem ser comparadas a 25 anos do crescimento sem interferência humana”.

Os participantes da capacitação divididos em grupos tiveram a oportunidade de colocar as mãos na terra, podaram algumas espécies e plantaram agrofloresta na propriedade onde foi realizada a iniciativa.