Para aumentar a segurança hídrica do Sistema Cantareira, o projeto Semeando Água promove capacitações para produtores rurais nas áreas de manejo de pastagem ecológica e de restauração florestal. Com um público mais amplo que inclui educadores e alunos, o projeto desenvolve ações de educação ambiental. Em comum, todas essas frentes envolvem articular a sociedade e somar esforços diante de um objetivo compartilhado. Para fortalecer a integração social, o projeto Semeando Água, que tem patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal, reuniu durante o Encontro sobre os desafios e oportunidades para aumentar a segurança hídrica no Sistema Cantareira, produtores rurais, pesquisadores, representantes de empresas e do governo, em julho (03), em Nazaré Paulista. “A criação de uma visão integrada nos dará base para as ações necessárias à resiliência do Sistema Cantareira”, afirma Simone Tenório, pesquisadora e coordenadora de Políticas Públicas do projeto realizado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas.

Entre os resultados do encontro está a elaboração de uma carta de intenções com propostas de ações para assegurar a disponibilidade hídrica de um dos sistemas mais importantes do planeta. No momento, a carta construída de maneira participativa durante o evento está em processo de validação com o grupo formado pelos palestrantes e pelo público que prestigiou o evento. A partir da publicação do documento, a expectativa é o aumento do número de produtores rurais, representantes de empresas e do governo de 12 municípios que integram o Sistema em questão. “O objetivo é mobilizar ainda mais interessados em somar esforços em direção à proteção dos recursos hídricos, o que passa por uma série de medidas que possuem extrema relação com a água”, completa Simone Tenório. Para o segundo semestre, o grupo, a partir da publicação oficial da carta, dará início ao Plano de Ação.

O que vem sendo feito e os novos desafios

A apresentação de Alexandre Uezu, biólogo, doutor em Ecologia e coordenador do projeto Semeando Água, destacou o atual cenário do Sistema Cantareira. “Menos da metade, cerca de 40% das Áreas de Preservação Permanente (APPs) na região possuem florestas. Diante disso, temos como sociedade dois grandes desafios: restaurar 21.000 hectares das APPs, o que significa plantar 35 milhões de árvores e melhorar o manejo em cerca de 100 mil hectares de pastagens degradadas”.

Maria José Brito Zakia, engenheira florestal e consultora no Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), reforçou a importância das áreas recuperadas para a infiltração da chuva no solo e consequentemente para o Sistema. “Em áreas de florestas a absorção da água no solo chega a 95%. Já nas pastagens degradadas é inferior a 40%. Mudar essa realidade é uma responsabilidade de todos e não apenas do proprietário rural”.

Consuelo Franco Marra, geóloga, especialista em Recursos Hídricos na Coordenação de Implementação de Projetos Indutores da Agência Nacional de Águas (ANA), destacou o papel de protagonista do proprietário rural, na palestra sobre Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). “Nesse programa de PSA, o objetivo é adequar a propriedade rural para que ela tenha condições de prestar os serviços ambientais. O proprietário da área é um parceiro que recebe pelos serviços prestados. O trabalho é desenvolvido mediante o compromisso assumido de cinco anos pelo proprietário”.

Wander Bastos, presidente da Associação dos Sindicatos Rurais do Vale do Paraíba (Assivarp), ressaltou a área rural como aquela onde as respostas às adaptações costumam em geral ser mais rápidas. “Se trabalharmos mais a questão da importância da água na área rural teremos um retorno em pouco tempo. É uma responsabilidade nossa a conservação do solo e a manutenção das APPs. Para a conservação do solo temos instrumentos como barraginhas, os terraços, as práticas conservacionistas que buscam minimizar os impactos e com isso ocorre o aumento da infiltração da água no solo que é o que a gente quer”.

A experiência que vem das empresas

André Bueno Portes, coordenador de Recursos Hídricos e Efluentes (SMS/MA/BRH/RHE) Gerência de Biodiversidade e Recursos Hídricos da Petrobras, apresentou o Índice de Risco de Escassez Hídrica – IREH desenvolvido em parceria com o Laboratório de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da COPPE/UFRJ. “O indicador permite identificar entre as 455 unidades quais são as prioritárias quanto aos riscos relacionados à água e assim conseguimos direcionar as ações da companhia de maneira mais assertiva”.

A metodologia aplicada trabalha com três questões-chave: Disponibilidade, Vulnerabilidade e Resiliência. O primeiro item considera a relação entre demanda hídrica e a disponibilidade da bacia hidrográfica. Já o segundo sintetiza as características da bacia hidrográfica tanto físicas quanto de gestão, do plano de bacia, por exemplo. O fator Resiliência traz à tona as informações, as características da unidade em reagir, resistir e se recuperar. Com base no IREH e nas consultas às Unidades Operacionais a empresa desenvolveu um Plano de Ação para mitigação de riscos relacionados à água com 40 ações.

A experiência da Replan, maior refinaria nacional em capacidade de processamento de petróleo, foi compartilhada durante o evento por Paulo Lovo Júnior, engenheiro de processamento na Petrobras. “Desde os anos 2000, a Replan trabalha com projetos de menor consumo de água, com destaque para a modernização dos processos. A empresa reúsa 23% da água consumida e efetua melhorias no monitoramento da vazão e da qualidade dos rios”. A Replan também realiza o reflorestamento no entorno de nascentes em áreas de bacias mais suscetíveis à erosão, além de ações e atividades de educação, capacitação e comunicação social que buscam incentivar o reúso da água da chuva.   

Crédito das imagens: Ilana Bar