A crise climática decorre da grande quantidade de carbono presente na atmosfera, consequência de diversas ações humanas, como a alta quantidade da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e outras mudanças de uso da terra. A vegetação nativa é substituída por pastagens, florestas se tornam monoculturas, áreas rurais se tornam urbanas com o crescimento das cidades. Para balancear essa conta, muito precisa ser feito. Para se obter um diagnóstico é preciso calcular quanto carbono foi emitido e qual o potencial de armazenamento de carbono de uma região. A restauração florestal e a implantação dos sistemas produtivos sustentáveis são formas de aumentar esse armazenamento promovidas pelo projeto Semeando Água – iniciativa IPÊ, Instituto de Pesquisas Ecológicas com patrocínio da Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.
Thais Roberts, em sua pesquisa de mestrado no IPÊ, analisa as mudanças ocorridas nos últimos 30 anos na região do Sistema Cantareira e seu entorno, que abrange cerca de 392 mil hectares. Na região, os usos mais encontrados são as pastagens e silvicultura de Eucalipto, assim como florestas mais jovens e florestas em estágios mais avançados de desenvolvimento, acima de trinta anos.
O estudo busca descrever como a dinâmica da mudança do uso da terra afetou os estoques de carbono nos últimos trinta anos na região, a fim de estimar a capacidade de estoque de carbono. Foram analisados dados de 1985 e 2020 de mapeamento realizado pela plataforma MapBiomas. Neste período a cobertura florestal total teve uma redução de 44% para 42%. Pode não parecer uma perda significativa, mas a pesquisadora explica que é preciso se atentar aos detalhes.
“Identificamos o surgimento de novas florestas e o desmatamento dos remanescentes antigos. Dos 42% restantes de cobertura florestal, apenas 34% são de remanescentes florestais acima de 30 anos, e 8% são de áreas regeneradas ao longo dos últimos 30 anos.”
Embora áreas equivalentes de desmatamento tenham sido reflorestadas, é preciso quantificar o estoque de carbono. As florestas maduras têm quase o dobro de estoque de carbono do que as áreas em regeneração. Apesar do grande potencial de sequestro de CO₂ das florestas regenerantes, o desmatamento de remanescentes florestais é um grande emissor, quantidade muito maior do que as florestas em regeneração têm capacidade de remover da atmosfera. Esse desequilíbrio entre o desmatamento de remanescentes maduros e a regeneração de novas florestas gera consequências significativas no ciclo regional e global do carbono.
“Estamos trocando floresta madura por floresta jovem, que em termos de estoque de carbono e provisão de serviços ecossistêmicos são coisas completamente diferentes.” explica Thais. A análise demonstra não apenas a necessidade de ações de restauração florestal em larga escala a fim de contribuir para a compensação das emissões de gases de efeito estufa, como também a necessidade de proteger as florestas mais maduras, que concentram os maiores estoques de carbono.