Você já ouviu falar sobre serviços ecossistêmicos?

Um ecossistema é a composição de um complexo dinâmico de comunidades de plantas, animais e microrganismos e seu ambiente não-vivo, como a água e o solo. As interações entre seus elementos são chamadas de funções ecossistêmicas. Exemplos destas funções são a transferência de energia, a ciclagem de nutrientes, a regulação de gases, a regulação climática e do ciclo da água. Já os chamados serviços ecossistêmicos são os resultados dessas interações que geram benefícios diretos e indiretos para as pessoas. Eles são essenciais para o bem-estar humano e para a realização de diversas atividades econômicas.

Dentre eles, os Serviços ecossistêmicos hidrológicos são os frutos dos benefícios produzidos pelos efeitos dos ecossistemas terrestres na água doce, que incluem: abastecimento e qualidade da água, mitigação de enchentes e serviços culturais relacionados à água. O assunto vem ganhando atenção das comunidades científicas e políticas devido às crescentes pressões sobre suas promoções e a iminente crise hídrica global.

Esses serviços, por resultarem da complexidade de interconexões dos elementos que compõem a paisagem, são especialmente sensíveis a mudanças. Especialmente nas bacias de cabeceira, locais onde surgem os rios, sabe-se que os impactos da perturbação do solo, como o desmatamento, agricultura e urbanização, são ainda maiores. 

Os estudos realizados na área analisam os efeitos da composição (tipo e proporção da cobertura da terra) e a configuração (arranjo espacial dos tipos de cobertura) das paisagens para responder questões relacionadas à provisão de água. Entretanto, a importância de cada atributo pode variar de acordo com as diferentes características topográficas, hidrológicas e de uso do solo. 

Pesquisadora realizando coleta de água

Gabriela Barreto de Oliveira, em sua pesquisa de mestrado realizada no Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) tem como objetivo entender como a combinação desses atributos (composição e configuração da paisagem) influenciam na produção de água e de sedimentos nos cursos d’água das bacias de cabeceira do Sistema Cantareira. Os resultados do trabalho servirão como subsídio a políticas de planejamento territorial e ambiental, como estratégias de manutenção de serviços ecossistêmicos tão importantes para a região. A pesquisadora explica que

 

 

“o grande desafio é entender as múltiplas consequências do padrão paisagístico para os serviços hidrológicos, a fim de se planejar medidas adaptativas que possam aumentar a resiliência dos ecossistemas e também reduzir o risco de desastres relacionados ao clima.” 

Estação hidrológica

Em seu estudo foram selecionadas 8 bacias hidrográficas que representassem os três principais usos do solo da região: cobertura florestal, pastagem e reflorestamento (eucalipto) em diferentes proporções. Nas bacias foram montados equipamentos que irão coletar dados sobre o nível dos corpos d’água e a precipitação, permitindo o monitoramento constante das condições das bacias estudadas. Também serão utilizados periodicamente equipamentos que aferem a vazão pontual, a concentração de sedimentos e os parâmetros físico-químicos relacionados à qualidade da água, como turbidez, temperatura, pH, potencial de oxirredução, condutividade e oxigênio reduzido.

Para Alexandre Uezu, coordenador do projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.

“Entender os impactos das atividades humanas é fundamental para o planejamento de ações de restauração e conservação dos ecossistemas e, como consequência, a melhoria da provisão dos serviços fornecidos por esses locais.”

Uezu também ressalta que a água produzida nas bacias que abastecem o Sistema Cantareira é responsável pelo fornecimento deste recurso para 7,5 milhões de pessoas.