Uma das grandes falácias repetidas à exaustão por alguns setores é a de que meio ambiente não conversa ou é diretamente oposto ao desenvolvimento socioeconômico, falsa dicotomia que só serve a interesses de poucos. Os números e dados científicos e econômicos já mostram o impacto negativo da perda de biodiversidade no mundo. A destruição dos ecossistemas afeta todas as áreas da economia como a agricultura, pesca, turismo e até mesmo o setor financeiro, entre outras. Por outro lado, os efeitos positivos da união de desenvolvimento com a conservação da natureza já demonstram que esse olhar que separa o ambiente da economia é não só ultrapassado, como pouco inteligente, em especial no Brasil, o país com maior biodiversidade do mundo. Essa união é uma das estratégias do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Para início de conversa, a destruição dos biomas causa a perda de serviços ecossistêmicos que são essenciais para a economia global. De acordo com a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), a perda da biodiversidade está colocando em risco aproximadamente US$ 44 trilhões, ou cerca de 50% do PIB Global, que depende desses serviços fornecidos pela natureza, como polinização, fornecimento de água limpa, regulação climática. No atual cenário em que nos encontramos, diante de tantos eventos climáticos que causam uma série de danos, os ecossistemas servem como barreiras contra esses desastres naturais, como inundações, tempestades e secas. Globalmente calcula-se que os desastres climáticos custam mais de US$ 300 bilhões por ano, e a perda da biodiversidade pode acarretar essas catástrofes com mais frequência e intensidade.
O setor da agricultura, é um dos maiores prejudicados. A FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura estima que 75% das culturas alimentares globais dependem de polinizadores. A perda desses insetos pode causar prejuízos econômicos globais entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões anuais. Se as espécies de polinizadores continuarem a desaparecer, os custos para manter a produtividade agrícola vão aumentar, impactando a segurança alimentar e elevando o preço dos alimentos, causando inflação. Mudando para o setor do turismo, a biodiversidade é um pilar fundamental. Regiões que dependem de atrações naturais como o Brasil sofrem perdas diretas quando essas áreas são destruídas, seja por desmatamentos ou incêndios, ou mesmo pela poluição. Essa degradação reduz o fluxo de turistas, afetando as economias locais e a geração de empregos.
Outro impacto bastante custoso e grave é o que se observa na saúde humana. A destruição dos habitats aumenta o contato entre as populações humanas e silvestres, facilitando a disseminação de zoonoses, como a COVID-19. Recentemente passamos por uma situação inimaginável e estudos demonstraram que os prejuízos econômicos foram de mais de US$ 22 trilhões globalmente. As mudanças climáticas e a perda de biodiversidade aumentam o risco de novas pandemias, que acarretará enormes custos para a economia global.
Por fim, se nenhuma das razões expostas convence grande parte da população que sem querer se agarrar aos que repetem o mantra de que “o meio ambiente atrapalha o desenvolvimento” o setor financeiro, que tem como objetivo a obtenção de lucros incessantes, também está ameaçado. O Banco Mundial estima que a perda de Capital Natural e o declínio da biodiversidade possam reduzir o PIB Global em até 2,3% por ano, até 2030. Com tantos dados e exemplos sobre como a biodiversidade é relevante para a vida das pessoas, para a economia e para a vida selvagem, é um erro grotesco ou má intenção, que coloca à frente interesses individuais aos coletivos, continuar com esse discurso que afasta o meio ambiente do desenvolvimento econômico.
Estamos a um passo da COP16, que é a Convenção das Partes da ONU, sobre a Convenção Diversidade Biológica, da qual o Brasil é signatário. Estamos construindo as estratégias para os Planos de Ação Nacional de Conservação da Biodiversidade, com base nas metas globais da COP 15, conhecidas como Kunning-Montreal e com a participação de diversos setores: governo nacional e subnacionais, sociedade civil, povos originários e tradicionais, empresas e academia. São 23 metas a serem cumpridas pelo país com a participação de todos e não temos mais tempo de beneficiar interesses que não estejam alinhados à essa estratégia.