Os períodos de estiagem trazem consigo o aumento do risco de incêndios nas áreas florestais. As notícias sobre as queimadas são estarrecedoras e temos acompanhado essa tragédia em todo o país. As imagens de enormes labaredas, colunas de fumaça, animais mortos e floresta carbonizada, solos secos e devastados têm sido constantes e avassaladores e os impactos ambientais, econômicos e sociais causados pelos incêndios florestais se alastram, assim como o fogo.
De acordo com o relatório do MapBiomas Fogo, entre 1985 e 2022, foram registrados 540.512 focos de incêndio no estado de São Paulo. A maior parte dos incêndios ocorreu em áreas de agropecuária, que representaram cerca de 68% dos eventos de fogo. O bioma Mata Atlântica foi o mais afetado, com impactos significativos sobre a vegetação nativa e áreas protegidas. Esses incêndios têm sido alimentados por condições climáticas extremas, como seca prolongada, calor intenso e baixa umidade, que criam um ambiente propício para a propagação de queimadas, afetando várias áreas de vegetação, especialmente na região noroeste do estado.
Os impactos dos incêndios florestais são significativos e afetam gravemente os habitats. Considerando os impactos ambientais, a destruição dos habitats coloca em risco a biodiversidade, podendo levar muitas espécies à extinção local, especialmente em ecossistemas vulneráveis, seja pela morte dos indivíduos, seja pela perda de variabilidade genética que uma vez perdida número de probabilidades de cruzamentos tornando as populações viáveis. As consequências vão além dos incêndio, pois o fogo reduz a fertilidade do solo e aumenta a sua vulnerabilidade à erosão, prejudicando a regeneração da vegetação, além do que, a perda da cobertura vegetal afeta o ciclo hidrológico reduzindo a captação de água para o solo e diminuindo a capacidade da floresta de regular o clima. A aplicação de Soluções Baseadas na Natureza, como a implementação de Sistemas Produtivos Sustentáveis é uma das estratégias do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Após as queimadas, o solo perde a sua fertilidade e pode levar anos para se recuperar, diminuindo a fertilidade e produtividade da terra. Nesses episódios, são devastadas grandes áreas agrícolas, destruindo culturas e pastos, o que afeta diretamente a produção de alimentos e a pecuária, resultando em perdas financeiras para os produtores e aumento nos preços dos produtos, além dos custos com a reconstrução de casas, estradas, perda de equipamentos agrícolas e outras infraestruturas que podem ser afetadas pelos incêndios. Em regiões onde a silvicultura é o setor produtivo predominante, os incêndios podem destruir florestas de produção, afetando a oferta de madeira e prejudicando empresas do setor, o que aumenta os prêmios de seguros para as propriedades e negócios em áreas vulneráveis, gerando custos adicionais para as empresas sendo repassado para os consumidores com o aumento dos preços de produtos. O custo com o combate é alto, pois além dos programas de monitoramento e prevenção, como os sistemas de alerta e manutenção de áreas de proteção requerem investimentos contínuos, ainda são necessários os investimentos em recursos para controlar os incêndios, com a contratação de brigadistas, compra de equipamentos e dependendo da proporção, o uso de aeronaves para combater o fogo.
Na esfera social, em algumas regiões, comunidades rurais e indígenas se veem forçadas deixar suas terras, devido aos incêndios que podem ser naturais, porém, em grande parte das vezes ocorrem como forma de pressão para o uso da terra, principalmente para a agricultura e pecuária, aumentando o conflito entre grupos indígenas, agricultores, grileiros e latifundiários. Na saúde, a poluição atmosférica em decorrência da fumaça dos incêndios afeta a qualidade do ar, prejudicando a população local e se expandindo para outras regiões mais distantes. A fumaça resultante das queimadas pode causar problemas respiratórios, especialmente em crianças e idosos ou indivíduos com doenças pré-existentes, sobrecarregando o sistema de saúde e aumentando os custos para o Estado. Com as queimadas, são liberadas grandes quantidade de dióxido de carbono (CO2) e outros gases poluentes na atmosfera. O impacto a longo prazo desses incêndios pode ameaçar o equilíbrio ecológico global, tornando sua prevenção e controle um desafio crucial.
Os incêndios florestais no Brasil, especialmente na Amazônia, Cerrado e Pantanal têm se intensificado nos últimos anos, muitas vezes associados à expansão agrícola, desmatamento ilegal e políticas ambientais enfraquecidas. O impacto nas mudanças climáticas é evidente, uma vez que o desmatamento e as queimadas, especialmente na Amazônia, são responsáveis por grande parte das emissões de carbono do Brasil. Isso agrava o efeito estufa e acelera as mudanças climáticas, impactando o clima global.
Sistema Cantareira
O monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou um aumento significativo de focos de incêndio em várias partes do estado de São Paulo, incluindo regiões próximas ao Sistema Cantareira, que enfrenta desafios contínuos para manter suas áreas protegidas. Em 2024, a região do Sistema Cantareira foi duramente afetada por incêndios florestais, especialmente devido ao clima seco e às altas temperaturas. No Parque Estadual da Cantareira, focos de incêndio foram detectados e combatidos intensamente com o uso de helicópteros e drones. Esses incêndios atingiram áreas nas cidades de Guarulhos, Mairiporã e São Paulo, levando ao fechamento de parte do parque. Recentemente, por decisão da Fundação Florestal, todas as unidades de conservação do estado de São Paulo foram fechadas para evitar a propagação do fogo e novos incêndios como medida de precaução e proteção dessas áreas.
Essas unidades de conservação desempenham um papel crucial na regulação climática, proteção dos recursos hídricos e controle da erosão do solo, e as unidades de conservação e áreas protegidas são cruciais para a manutenção do fornecimento de serviços ecossistêmicos e proteção da biodiversidade. O abastecimento de água proveniente do Sistema Cantareira, do qual dependem mais de 7,5 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e região está em constantemente ameaçado, pois, em face às questões climáticas e com a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos provocados pelas queimadas, portanto as medidas de mitigação e adaptação climáticas para a região são importantes para a manutenção da segurança hídrica.
Com o olhar da economia, a destruição dessas áreas resulta em custos econômicos indiretos de longo prazo, além da perda de Capital Natural trazendo graves prejuízos a todos os setores. Mas, com os olhos que celebram a vida, e o sentimento pelo direito à existência de todas as espécies, há um temor pelo futuro com tantas perdas significativas de indivíduos, espécies, biomas e sonhos de um planeta viável.