Você já pensou na diversidade de produtos que pode ser encontrada em uma floresta? Plantas medicinais, resinas, mel e cogumelos estão entre as possibilidades de trabalhar a bioeconomia na Mata Atlântica.
A parceria entre a Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Projeto Semeando Água iniciou o desenvolvimento de um protocolo de identificação de fungos. O objetivo é aprofundar o conhecimento sobre as características das florestas locais, através das associações com fungos micorrizas. Os fungos se instalam nas raízes das plantas, por esse motivo entender a relação entre eles é tão importante. É na época das chuvas que a parte superior dos cogumelos fica visível – o píleo, conhecido como “chapéu”. No entanto, a maior parte do cogumelo, o micélio, fica escondida em troncos e abaixo da terra. A partir daí, será possível reconhecer, dentre estes, espécies comestíveis para a comercialização.
Um alerta importante é que apesar de existirem muitas espécies de cogumelos, não se deve consumir sem conhecer, pois alguns podem ser tóxicos ou até mortais.
A pesquisa é realizada por Elisa Esposito, bióloga, mestre e doutora em Engenharia Química e professora no curso de pós-graduação em Biotecnologia, com a participação de Simone Tenório, também bióloga, e coordenadora das ações de Desenvolvimento Econômico do Projeto Semeando Água. Esposito coordena o Laboratório de Sistemas Microbianos e trabalha com os temas Microbiologia Ambiental (Estudo de inoculantes promotores de crescimento vegetal, sistemas agroflorestais, aplicação de biochar, identificação de fungos macroscópicos, recuperação de áreas degradadas) e saúde (Estudo de prebióticos e exopolisssacarídeos). Sua principal linha de pesquisa atual é o Estudo de Sistemas Microbianos associado a Plantio Agroflorestal na Recuperação de Solos.
A coleta de dados tem início com idas a campo para a busca das espécies locais. Essa coleta precisa ser realizada sazonalmente para mapear a dinâmica do ecossistema e determinar a época de maior abundância de cogumelos comestíveis. Tão importante quanto essa caracterização da biodiversidade fúngica local é o entendimento de como os fungos associados a plantas auxiliam na manutenção das florestas e na retenção de carbono. O clima tem um papel vital para alguns serviços ecossistêmicos, dos quais um dos mais importantes é o armazenamento de carbono no solo.
Os fungos são essenciais para a manutenção das florestas, já que são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica – folhas e galhos caídos e pequenos animais, um importante serviço ecossistêmico. A relação é de mão dupla, já que os cogumelos precisam de florestas em pé, ou seja, habitats biodiversos, para sua ocorrência. A pesquisa visa catalogar novas espécies para composição de um inventário de cogumelos da Mata Atlântica e, na medida do possível, relacionar as ectomicorrizas com as árvores associadas. Muitas espécies ainda são desconhecidas pela maioria das pessoas. Suas características nutricionais e potencialidades culinárias também serão analisadas.
Os cogumelos já são um mercado em crescimento, que apresenta um grande potencial econômico. Espécies desconhecidas tem a possibilidade de despertar a curiosidade dos consumidores. Ampliar o conhecimento sobre a enorme biodiversidade de cogumelos pode auxiliar na conservação dos remanescentes de florestas do Sistema Cantareira. Encontrar produtos que possam ser comercializados e gerar renda, sem destruir a floresta, é uma das formas de incentivar a bioeconomia na área de manancial que produz água para mais de 7 milhões de pessoas. Este novo tipo de economia é justamente baseado na conservação dos ecossistemas e numa interação saudável do homem com seu meio.
“Conciliar a conservação da biodiversidade e da água com a geração de renda de forma sustentável é um dos objetivos do Projeto Semeando Água. Temos buscado ampliar as alternativas conhecidas e produzir novas possibilidade por meio da pesquisa e da biotecnologia, através do desenvolvimento de produtos naturais que podem ser potencializados para sua comercialização. Desta forma, buscamos ampliar a escala de produção, criar novos mercados e restabelecendo alguns serviços ecossistêmicos importantes para a conservação do bioma Mata Atlântica”
destaca Simone Tenório, coordenadora de Desenvolvimento Econômico Territorial e Políticas Públicas do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
O inventário de cogumelos auxiliará na promoção do potencial econômico da floresta em pé. Para além dos cogumelos comestíveis “in natura” existe uma grande quantidade de alternativas de consumo. O desenvolvimento de novos produtos a partir do uso da biotecnologia tem o potencial de aumentar o seu valor agregado e a durabilidade. O levantamento regional preencherá esta lacuna de conhecimento através do levantamento, análise e sistematização de informação sobre as espécies da região.
Além dos pesquisadores em campo, contamos com os produtores rurais, os Semeadores de Água para atuar nesta parceria. Para tanto, desenvolvemos um protocolo a ser distribuído, ampliando a escala de informações por meio das coletas de dados. Assim se faz ciência cidadã, uma excelente ferramenta de pesquisa e de envolvimento comunitário. Incentivar a participar em pesquisas também é uma forma de ampliar a conscientização sobre a riqueza da biodiversidade, das funções ecológica e serviços ecossistêmicos prestados pelas espécies.