Trazer florestas de volta é uma atividade de prioridade mundial para a redução dos impactos das Mudanças Climáticas. A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu esta como a Década da Restauração de Ecossistemas (2021 – 2030). O objetivo é interromper e reverter à degradação dos ecossistemas em todos os continentes e oceanos. E isso é realizado através da restauração ecológica, ou seja, a realização de plantios que tenham como meta o retorno de complexos ecossistemas, alinhados ao bioma em que estão inseridos. 

As árvores plantadas, assim como outros tipos de vegetação presentes em florestas biodiversas, absorvem carbono ao logo de seu crescimento, contribuindo para a redução dos Gases de Efeito Estufa (GEE) presentes na atmosfera. O solo destes locais também armazena carbono, estocado na serrapilheira – cobertura de folhas e matéria orgânica que caem das árvores.  

A restauração ecológica é uma atividade dependente de vários fatores. Para que ela possa acontecer são necessários: financiamento, gestão, avaliação do ecossistema, disponibilidade de mão de obra, obtenção de sementes, produção de mudas, monitoramento e engajamento comunitário. Todos estes aspectos são elos da cadeia restauração. Nela, os remanescentes de florestas têm um papel fundamental. 

É nestes locais que podem ser obtidas informações sobre a vegetação local, como, por exemplo, quais as espécies que ocorrem naquela região. Cada área de floresta possui especificidades e quanto mais próxima a vegetação original de cada microrregião, maior a chance de sucesso das restaurações. Diversos produtos florestais não madeireiros podem serem obtidos através do manejo florestal sustentável, ou seja, o cuidado necessário para sua conservação e perenidade. Um destes produtos são as sementes – um insumo primordial para a cadeia da restauração ecológica.

Através das sementes se dá início à produção de mudas em viveiros. Para produzir boas mudas é preciso que elas possuam uma ampla diversidade genética. A diversidade genética pode ser entendida como o somatório das variações genéticas observadas em uma população ou espécie. Mesmo que possam parecer iguais, cada árvore possui uma genética única. Essa diferença é imprescindível para a recuperação da biodiversidade. Isso garante que as mudas utilizadas no plantio não sejam estéreis, ou seja, são capazes de gerar descendentes saudáveis. No caso de adversidades, cada indivíduo reagirá de forma diferenciada, o que aumenta a capacidade da floresta de se recuperar e se propagar.  Por esse motivo existem metodologias de coleta desenvolvidas a partir de critérios técnicos que visam garantir a qualidade das sementes e sua variabilidade genética. 

 

Matrizes: a origem das sementes 

Um dos primeiros passos da coleta de sementes é a identificação das espécies. Conhecer as épocas de floração e/ou frutificação podem auxiliar o processo identificação. Também é preciso saber quando a árvore costuma produzir sementes, havendo pequenas diferenças regionais, o que pode ser aprimorado através da observação.  

A localização é outro ponto de atenção. Mudas proveniente de sementes coletadas em remanescentes florestais próximo à nova floresta que se deseja formar tem maiores chances de sobrevivência, por serem originárias de um local semelhante, com as mesmas características ambientais (como temperatura, luminosidade, altitude e solo). A coleta realizada em áreas urbanas ou locais que possuem poucas árvores da mesma espécie não garantirá a diversidade genética necessária, gerando mudas “aparentadas”.

Uma das formas de evitar lotes de sementes com indivíduos aparentados é através da delimitação de uma área de coleta. A área de coleta de sementes pode ser natural ou plantada, desde que contenha uma ou mais espécies florestais de interesse em quantidade significativa. Este é um mecanismo de garantia de qualidade e procedência, sendo possível identificar a origem dos lotes de sementes. Além disso, uma área de coleta de sementes consolidada permite o planejamento e monitoramento das árvores matrizes, a fim de assegurar a produção constante de sementes. São denominadas matrizes as árvores selecionadas para a coleta de sementes. 

 

Projeto Piloto em Nazaré Paulista 

O Sítio Córrego Verde é uma propriedade rural parceira do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas patrocinado pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental. Localizada em Nazaré Paulista, com um remanescente florestal de 18,6 hectares de mata nativa, foi realizado no local um projeto piloto de Área de Coleta de Sementes. Lá foram identificadas, marcadas e georreferenciadas 61 árvores matrizes de dez espécies florestais com objetivo de se obter sementes com diversidade e material genético local.   

Das 61 matrizes marcadas, 23 indivíduos são da espécie Croton floribundus Spreng., o Capinxigui. Este é um bom número de indivíduos para a coleta, pois não compromete a dispersão de sementes dessa espécie no fragmento no futuro, garante a diversidade genética e evita o cruzamento entre indivíduos aparentados.

 

 

 

Também foram encontradas duas espécies ameaçadas de extinção: o Cedro (Cedrela fissilis Vell.) e a Juçara (Euterpe edulis Mart.). Estas espécies são prioritárias para o de estabelecimento de novas populações, a fim de reduzir o risco de extinção. Estabelecer mais Área de Coleta de Sementes na região é um passo necessário para o fomento da cadeia de restauração ecológica, através do aumento da produção local de sementes de qualidade e criação de um grande estoque genético proveniente de árvores matrizes.  

 

Capixingui