Nos dias 20 a 23 de novembro o Semeando Água esteve presente no 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA). O congresso teve como sede a região central da cidade do Rio de Janeiro, com eventos simultâneos em locais de grande importância histórica como a Fundição Progresso, Circo Voador, Cine Odeon, Passeio Público, entre outros. Com participação de mais de 5,5 mil inscritos, o evento reuniu pesquisadores, docentes, estudantes, técnicos e extensionistas, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais, artistas e ativistas de movimentos sociais. 

O congresso, que teve sua primeira edição 2003, completa 20 anos. O tema do encontro “Agroecologia na boca do povo” buscou colocar em evidência a produção de alimentos saudáveis e diversos por agricultores, povos e comunidades no campo e nas cidades, nas águas e nas florestas; a necessidade de garantia de acesso a esses alimentos pelos diferentes setores da sociedade, especialmente os mais vulneráveis e a popularização da agroecologia para se atingir transformações sociais e ecológicas. 

Os espaços de partilha dos trabalhos científicos, relatos técnicos e populares em texto e em vídeo são denominados no CBA como “Tapiris de Saberes”. “Tapiri” é uma palavra indígena no tronco tupi muito presente no vocabulário das populações ribeirinhas e diversos povos tradicionais na região Norte do Brasil, e representa a palhoça, o lugar onde as pessoas se reúnem para dialogar, comer, descansar e trocar experiências. Com mais de 300 sessões, as experiências se organizaram em 16 eixos temáticos. 

No eixo “Educação e Agroecologia” foram apresentadas duas experiências do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O relato popular em vídeo “Aprendizados de Agroflorestar em uma Escola Climática do Sistema Cantareira” contou a experiência da Escola Estadual Profa Clélia B. L. da Silva, localizada no bairro rural Cuiabá, em Nazaré Paulista. A Escola teve a realização da disciplina eletiva “Agroflorestar, semeando um mundo de amor, harmonia e fartura” ministrada pela professora Letícia Bueno e contada pelo diretor Rildo G. de Oliveira. Em sua fala, o diretor relata que o contato com a natureza proporciona um aprendizado através da prática e ressalta a importância de se conhecer outros modelos de agricultura que sejam capazes de devolver à terra aquilo que é retirado dela. 

Também neste eixo, o relato técnico “Os sistemas agroflorestais nas Escolas Climáticas” trouxe mais detalhes sobre a experiência. As Escolas Climáticas são realizações do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas em parceria com o Instituto Alair Martins (IAMAR). Os alunos vivenciaram as etapas de preparo do solo com plantio e colheita de sementes de aveia para a adubação verde, manejo de bananeiras que já existiam no local e planejamento dos consórcios e plantio das mudas, o que permitiu um aprendizado sistêmico em relação às diferentes práticas necessárias para a construção de um SAF.  

O relato foi produzido pela coordenadora de Educação Ambiental do Semeando Água, Andrea Pupo, sua equipe, composta por Lídia Duarte e Isabela Volpato e a Professora Leticia Bueno. As autoras relatam que o SAF é uma sala de aula multi e transdisciplinar, um laboratório ao ar livre para o ensino e aprendizagem de linguagens e códigos, matemática, das ciências e de inúmeras habilidades necessárias para lidar com incertezas e novos desafios socioambientais decorrentes da mudança do clima. Em meio às crises de perda de biodiversidade e climática, a educação ambiental nunca foi tão importante e estratégica para (re)conectar as pessoas ao que realmente importa: a água boa, o ar puro, a comida que alimenta e protege.  

A ementa da disciplina Sistemas Agroflorestais pode ser acessada AQUI e ministrada em qualquer escola ou coletivo. 

No eixo temático “Manejo de agroecossistemas” Tabata Marinangelo, estagiária do Projeto Semeando Água, apresentou a experiência “Prospecção de corante natural alimentício oriundo dos frutos da palmeira juçara (Euterpe edulis Mart.)”. A Juçara é uma espécie da Mata Atlântica ameaçada da extinção. Como medida de conservação e devido a seu potencial de geração de diversos produtos, na última temporada de chuvas foram plantadas mais de 2 mil mudas, que compõem os Sistemas Agroflorestais dos produtores rurais parceiros do projeto, os Semeadores de Água. 

O congresso contou com a presença de Ailton Krenak em sua conferência de encerramento, que defendeu a necessidade de investimento público e ampla participação social para “fazer agrofloresta para todo lado” frente a intensificação dos impactos das mudanças climáticas. O desafio é urgente e necessita de muitos braços para que a agroecologia chegue a todas as bocas. Alunos e educadores das Escolas Climáticas já iniciaram sua caminhada.