No dia 1º de junho aconteceu em Nazaré Paulista o I Encontro de Sementes Crioulas organizado pela Rede de Agroecologia do Leste Paulista.
As sementes crioulas são variedades selecionadas e cultivadas por agricultores e comunidades tradicionais ao longo de muitos anos. As sementes possuem uma grande agrosociobiodiversidade, ou seja, uma ampla variedade de espécies,populações e locais onde são tradicionalmente plantadas, métodos de cultivo, usos alimentares, medicinais e culturais além de uma ampla variedade genética. Essas sementes costumam ser compartilhadas através de trocas e feiras.
São sementes sem alterações transgênicas, não geradas em laboratórios e não comercializadas por grandes empresas. Por sua grande variedade de espécies e gêneros vegetais e por serem produzidas em pequena escala, sua existência depende de um cultivo constante e do cuidado dos Guardiões de Sementes, que armazenam e propagam essas sementes para que não se perca sua riqueza genética.
Por serem suscetíveis ao cruzamento com as variedades transgênicas – como, por exemplo, no caso do milho que tem sua polinização propagada por insetos e pelo vento – são necessários alguns cuidados para seu cultivo, entre eles o plantio em épocas diferenciadas do convencional e as barreiras de vento.
Com o objetivo de promover a troca de sementes na região foi realizado o I Encontro de Sementes Crioulas, organizado pela Rede de Agroecologia do Leste Paulista no município de Nazaré Paulista na cervejaria artesanal Rusticana, espaço de turismo rural gastronômico destinado à conservação ambiental. Na propriedade o resíduo da produção da cerveja é utilizado para a alimentação do gado, além de ter sido implementado um sistema agroflorestal que fornece alimento para os moradores e seus visitantes e com a proposta de alguns frutos serem utilizados na produção de cervejas artesanais
O encontro contou com a presença de produtores rurais, técnicos, extensionistas e funcionários das cidades da região ligados à área da agricultura e meio ambiente, funcionários da CATI e Embrapa, pesquisadores, membros de redes e coletivos agroecológicos e socioambientais e organizações não governamentais.
A abertura foi realizada por Pedro Jovchelevich, coordenador da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica, (ABD), que é guardiã de um amplo leque de variedades crioulas.
“Acho super importante esse tipo de encontro, é muito satisfatório ver um evento com tanta gente buscando criar caminhos para valorizar a agrobiodiversidade dessa região. Já morei nessa região muitos anos atrás e ver que esse movimento de sementes está se consolidando, começando a surgir com mais força é muito gratificante. Temos nos envolvido na regeneração de mata nativa, em que a valorização e a coleta de sementes é importante para geração de mudas, mas esse trabalho do pequeno agricultor que conserva a semente, que é o guardião de semente, acaba ficando mais invisível.”
A equipe do projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal – esteve presente no encontro, participando das discussões sobre os desafios e possibilidades para a propagação do cultivo dessas variedades e também participou da feira de trocas, distribuindo mudas de árvores nativas da Mata Atlântica – Juçara, Ingá, Tamboril, Araçá Amarelo, Mutamba e Jatobá.
Esse tipo de evento é de extrema importância pois promove a troca de saberes entre diferentes profissionais e áreas do conhecimento, fomentando discussões entre os participantes sobre estratégias de propagação não apenas em relação a sementes crioulas, mas também de conservação ambiental. Além disso, encontros como este ampliam e consolidam redes de pessoas que possuem objetivos comuns e juntas visualizam mais possibilidades de se apoiarem mutuamente.