No dia 14 de novembro o Projeto Semeando Água recebeu na sede do IPÊ – Institutos de Pesquisas Ecológicas, um Intercambio de Experiências Agroecológicas que reuniu pesquisadores, estudantes, técnicos e extensionistas e produtores rurais. O evento é fruto do projeto “Produção de conhecimento para o desenvolvimento rural sustentável: diagnóstico, sistematização e intercâmbios entre as redes agroecológicas do leste paulista e sul de Minas” executado pelos Institutos Federais das duas localidades, além da participação da Embrapa Territorial e Meio Ambiente, Associação Paulista de Extensão Rural, UNICAMP, Fundação ITESP, Cooperativa de Trabalho Assessoria Técnica, Extensão Rural e Meio Ambiente (AMATER) e Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC).
O levantamento de experiências, organizações e redes agroecológicas aconteceu de maneira integrada a plataforma Agroecologia em Rede. O diagnóstico, também buscou levantar as principais dificuldades e demandas percebidas pelos participantes do levantamento. Este é o segundo intercâmbio realizado para a integração da Rede de Agroecologia do Leste Paulista e rede Orgânicos Sul de Minas, com o objetivo de fortalecer e a ampliar redes agroecológicas, por meio da interação e troca de experiências. O primeiro encontro ocorreu no dia primeiro de setembro de 2023, no Instituto Federal de Inconfidentes/MG. A realização de um encontro em cada território promoveu oportunidade de uma maior participação dos agricultores e membros locais. Estiveram presentes produtores rurais parceiros do Projeto Semeando Água, da Associação de Agricultura Natural de Campinas e das organizações do Sul de Minas Amanjagua, Ecominas e Coopfam.
Cerca de 50 pessoas participaram da troca de experiências. Após a recepção com um café da manhã compartilhado, repleto de alimentos trazidos pelos próprios participantes, as atividades tiverem início com a abertura da artista, contada de histórias e Semeadora de Água Vivan Catenacci. Vivan recitou a história de uma reunião em que os participantes, no momento da ceia, só dispõem de talheres muito compridos, o que os leva a um momento de partilha em que se alimentarem com o auxílio dos outros.
Simone Tenório, coordenadora de políticas públicas e desenvolvimento territorial do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Tenório apresentou o histórico do Instituto aos participantes e falou sobre as estratégias integradas adotadas para conservação da biodiversidade e restauração de ecossistemas. Simone também falou sobre as ações de suporte a propostas de políticas públicas, educação ambiental, capacitações e oficinas, produção de mudas e consolidação de parecerias com os setores público, privado e terceiro setor.
Gustavo Brichi, técnico e extensionista do Semeando Água, mostrou a atuação nas propriedades rurais, explicou sobre como o planejamento das propriedades para adequação ambiental é realizado em parceria com os produtores e apresentou os sistemas produtivos sustentáveis e métodos de manejos sustentáveis aplicados. Na sequência, Francisco Corrales, analista da Embrapa Meio Ambiente, fez uma apresentação do histórico da Rede de Agroecologia Leste Paulista, mostrando seu território de atuação e destacou o papel da Rede de Sementes Crioulas do Leste Paulista na integração entre atores.
Vivian Catenacci e Luciano Bueno, Semeadores de Água, compartilharam sua experiência de migração da cidade para o campo, a opção da agroecologia como visão de mundo e modo de vida mais justo, harmônico, inclusivo, participativo. Apresentam a propriedade de 8 hectares em Piracaia/SP com fotos e falas poéticas, onde 4 hectares foram destinados à conservação e restauração, e nos outros 4 hectares foi implementado um Sistema Agroflorestal (SAF) com café, espécies frutíferas nativas da Mata Atlântica, juçara e madeiras. O plantio reuniu do empenho de toda família, inclusive das crianças, e da equipe técnica e de campo do Projeto Semeando Água.
Pupin e Alejandra, que também semeiam água em sua propriedade, a Família Orgânica, apresentam suas vivências no auxílio a vilas agroecológicas na região de Piracaia/SP. Alejandra apresentou dados sobre as populações rurais e urbanas do Brasil e do mundo, demonstram os fluxos migratórios dos neo-rurais, famílias que fazem o caminho inverso, retornando da cidade para o campo.
A Rede de Sementes Crioulas do Leste Paulista foi representada por Leandro Biral (CATI São Pedro), Chico Terra (coordenador do curso de Engenharia Agronômica da Fundação de Ensino Superior de Bragança), Laura Aranha e Isabel Etges do VIVE (Núcleo de Vivência e Imersão Verde Esperança). Os integrantes narraram o histórico de construção da rede, mostrando os encontros de trocas que organizaram e participaram ao longo do último ano. Para eles a Associação Biodinâmica (ABD), coordenada por Pedro Jovchelevich é uma inspiração. Um dos destaques das atividades da rede foi o encaminhamento de 49 propostas ao Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PLEAPO).
Laura e Isabel apresentaram as ações do VIVE, coletivo fundado em 2021 na Vila Agroecológica 4 Cantos, em Piracaia/SP, outra propriedade parceira do Projeto Semeando Água. A restauração das áreas degradadas está sendo realizada através da adubação verde e boas práticas de conservação do solo. Lá também estão sendo produzidas sementes de espécies pioneiras e plantas de serviço do local (como assa-peixe, cravurana, alecrim do campo, tephrosia, macela, tupinambor, sorgo pipoca, aroeira pimenteira) grãos alimentícios e de adubação verde. Entre os desafios enfrentados pelo coletivo foram citados: parcerias com instituições de ensino para pesquisa, construção de armazém para sementes, beneficiamento, armazenamento, laboratório, equipamentos de beneficiamento, voluntariado para beneficiamento e conscientização da importância da semente para a continuidade da vida.
Após o almoço a sala de aula deu lugar a uma ampla mesa onde foram dispostas as sementes e mudas trazidas pelos participantes para as trocas. Nestes espaços não são trocadas apenas sementes, mas também experiências, aprendizados, desafios, expectativas e possibilidades entre os participantes.
A Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região (ANC) foi apresentada por Milene Amedi e Geraldo Magela. A organização atuante há mais de 30 anos tem papel de destaque na história do movimento agroecológico do Brasil, fornecendo subsídios para a estruturação de organismos, instituições, políticas públicas e privadas, sistemas participativos de garantia (SPGs) e consolidação do Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (OPAC). Atualmente mais de 20 grupos integram a Associação.
Aloísia Hirata, pesquisadora do Instituto Federal do Sul de Minas e uma das coordenadoras do projeto de produção do conhecimento, relatou que o trabalho desenvolvido pela ANC foi referência relevante para sua formação e atuação no movimento agroecológico, inspirando o surgimento da Associação Orgânicos Sul de Minas.
Juliano Fujita apresentou a Rede Livres, que realiza a comercialização de produtos orgânicos e agroecológicos provenientes da agricultura familiar em Campinas/SP. No momento de intervalo entre as apresentações os participantes ouviram as canções agroecológicas de Allan Tiefensee, que chamou todos a participarem da apresentação artística.
O professor Lincoln Amaral do IF de São João da Boa Vista/SP, que também é coordenador do projeto de construção de conhecimento, apresentou os resultados da pesquisa realizada no Leste Paulista. A dificuldade de comunicação e a necessidade de troca de experiências estão entre os destaques do levantamento. Os participantes compartilharam suas interpretações do resultado, sendo a dificuldade de divulgação dos produtos e serviços um dos fatores que afetam a comercialização e, consequentemente, a renda do produtor.
O professor Luiz Carlos da Rocha, do IF Sul de Minas, do IF Sul de Minas apresentou os dados referentes a localidade. Destacou a importância e necessidade de parcerias, que vai além dos resultados das pesquisas, para divulgação dos resultados e continuidade das ações.
No encerramento Chico Corrales, coordenador da Rede de Agroecologia do Leste Paulista, abre a roda de falas, propondo a reflexão “o que levamos desse intercâmbio?”. Os encaminhamentos e sugestões foram anotadas para encaminhamentos futuros, mas a necessidade de continuar a caminhada unidos foi uma das mais citadas. Ana Rita Nossack, produtora rural da CoopFam, resume o sentimento de encerramento do evento na frase “Nós somos sementes e hoje estamos nos distribuindo e multiplicando.”