Para se criar uma nova floresta, é preciso conhecer muito bem como uma floresta funciona. É preciso também ter uma visão de longo prazo, pois uma floresta é um complexo dinâmico, uma rede de interações em constante processo de crescimento e renovação. Novas plantas nascem, crescem, enquanto outras morrem, caem, abrem clareiras. Estes espaços também são formados por elementos não vivos, como o solo e a água e por uma diversidade de seres como microrganismos, insetos e animais que os habitam.

A palavra reflorestamento remete ao imaginário do plantio de mudas de árvores. O importante é ter em mente que para a conservação do meio ambiente é necessária a restauração de todo o ecossistemas, não apenas árvores ou vegetação, mas todos os elementos que os compõem. Nesse sentido, a restauração florestal é a técnica utilizada para a recuperação de biomas florestais, ou seja, aqueles que originalmente eram ocupados por florestas (que também são compostos por outras plantas, como herbáceas, arbustivas e epífitas). Já a restauração ecológica visa o retorno da vegetação original de um local, seja ele floresta, cerrado, caatinga, cada um com suas características próprias. Restaurar ecossistemas é trazer de volta os serviços ecossistêmicos, ou seja, os serviços prestados pela natureza, que necessitam da interação entre os diferentes elementos que o compõem.

Quando se escolhe utilizar a técnica de plantio de mudas, uma importante etapa desse processo tem início nos viveiros. E para se produzir boas mudas é preciso estar atendo as sementes. Selecionar matrizes, ou seja, árvores maduras e apresentando bons aspectos de saúde, para a coleta de suas sementes garante que a genética de espécies que se desenvolvem bem na região aumente as chances de sucesso das restaurações. Outro aspecto a que se precisa estar atento é a escolha das espécies a serem reproduzidas e plantadas, para que as restaurações atinjam  uma ampla diversidade, assim como ocorre em florestas nativas.

 

Atualmente o déficit de Áreas De Preservação Permante (APPs) a serem restauradas na região do Sistema Cantareira é de 21 mil hectares (o equivalente a 21 mil campos de futebol). Segundo o Código Florestal, uma APP é uma“área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”

 

“Para vencer esse desafio é necessária a estruturação de toda uma cadeia de restauração, que vai desde a criação de grupos ou redes de coletores de sementes até sua comercialização e implantação. Os coletores necessitam de capacitação sobre as espécies nativas, suas épocas de reprodução, condições de saúde e localização dos fragmentos florestais onde a atividade pode ser realizada. Também há necessidade de equipamentos adequados para a coleta, no caso de árvores altas e de difícil acesso. E, por fim, conhecimento sobre beneficiamento e armazenamento das sementes. Cada espécie possui diferentes técnicas, como secagem, quebra de dormência, entre outros métodos que permitam o armazenamento adequado e transporte das sementes para a comercialização.” Explica João Coelho, responsável técnico pelo Viveiro do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ, Instituto de Pesquisas Ecológicas, patrocinado pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental.

Um mesmo bioma – o Sistema Cantareira se insere dentro do bioma Mata Atlântica – possui diferentes características em cada microrregião, o que depende dos aspectos como relevo, quantidade de chuvas na região, direção da incidência de sol, tipo de solo, entre outros. Coelho ressalta que “o ideal é sempre reproduzir aquilo que já existe em cada região, uma grande oportunidade para a multiplicação de grupos de coleta e viveiros especializados”.