Pesquisadores do IPÊ desenvolvem trabalho para a recuperação de corpos hídricos em municípios que fazem parte do sistema de abastecimento. Moradores são fundamentais nesse processo
O verão atípico do mês de janeiro e fevereiro, sem chuvas, foram fatores de preocupação sobretudo com a falta de água nas represas que alimentam o Sistema Cantareira, que abastece mais de 9 milhões de pessoas. Entretanto, uma das questões mais importantes para a conservação da água nessas áreas não está apenas no volume de chuva que precisa acontecer para abastecer o sistema, mas na conservação dos solos e encostas. A retenção da água nesses ambientes depende, em grande parte, da fertilidade da terra e seu manejo e, para isso, o apoio de pequenos proprietários rurais para um bom uso do solo é de grande importância nesse processo.
A diminuição da quantidade e qualidade de água disponível é um dos resultados da perda dos chamados “serviços ecossistêmicos”, aqueles oferecidos gratuitamente pela natureza, como ciclagem de nutrientes do solo, equilíbrio do clima, purificação do ar, qualidade da água entre outros. Com vistas à conservação dos recursos hídricos, pesquisadores do IPÊ realizam desde 2013 o projeto “Semeando Água”, que conta com o patrocínio da Petrobras. O trabalho busca alcançar o apoio de proprietários e comunidades de oito cidades que fazem parte do Sistema Cantareira de abastecimento de água, para a sua conservação. A proposta envolve melhoria no manejo do pasto e ações de reflorestamento nas propriedades, além de educação ambiental junto às escolas e moradores de municípios que abrangem este importante sistema: Mairiporã, Nazaré Paulista, Joanópolis, Piracaia, Vargem, Itapeva, Extrema e Camanducaia.
O projeto iniciou suas atividades com uma unidade demonstrativa no município de Joanópolis. Ali, a propriedade parceria recebeu instruções e proposta de manejo de pasto sustentável a fim de se conservar a nascente e corpos hídricos existentes na área. “Estou animado para ver os resultados, minha maior preocupação é a proteção das encostas, já que minha propriedade fica localizada em um vale, sofro constantes enxurradas, e isso além de me gerar gastos, compromete as nascentes que tenho aqui.” Afirma o produtor parceiro, José Bragion.
O trabalho também avançou para as cidades de Itapeva (SP) e Extrema (MG). Nessas cidades, os pesquisadores demarcam pontos estratégicos para propor alternativas para a conservação do solo em propriedades rurais parceiras que possuem nascentes e ou corpos hídricos.
Esta é uma importante etapa do projeto, onde a propriedade é avaliada e são levantadas as APPs – Áreas de Preservação Permanente, que posteriormente serão inseridas em um grande mapa do local e as possíveis medidas para conservação da água e solo serão apresentadas e validadas junto aos proprietários parceiros do projeto. “A ideia é que essas propriedades se tornem outras unidades demonstrativas, referência de conservação da água para vizinhos e comunidade. Por isso prospectamos áreas estratégicas para conservação, onde possuam nascentes ou mananciais a serem protegidos.”, explica o pesquisador Oscar Sarcinelli.