Pesquisadores começaram a instalação de gravadores de som para monitorar a fauna nas Unidades de Conservação do Continuum Cantareira. A área abrange os Parques Estaduais do Cantareira, Itaberaba e Itapetinga, o Monumento Natural Pedra Grande, a Floresta Estadual de Guarulhos e as Áreas de Proteção Ambiental do Sistema Cantareira e a da Represa Bairro da Usina. A proposta do estudo é levantar especialmente a biodiversidade de aves dispersoras de sementes nessas importantes áreas de conservação.

A pesquisa intitulada “Resiliência em paisagens multifuncionais em face às Mudanças Climáticas” está sendo desenvolvida em parceria entre a Fundação Florestal, a ONG RainForest Connection, a Universidade Federal de São Carlos (Campus Lagoa do Sino) e o Instituto IPÊ através do projeto Semeando Água e da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (ESCAS/IPÊ). Com o financiamento da FAPESP (Processo número 2019/19429-3), o estudo contribui com o planejamento de ações de adaptação às mudanças climáticas, buscando entender que tipo de paisagens garantem a segurança hídrica e a produtividade no meio rural, assim como a conservação da biodiversidade e o funcionamento adequado dos ecossistemas.

Os resultados do trabalho servirão para dar apoio e subsídio técnico para a gestão das áreas protegidas, realizadas pela Fundação Florestal e ampliar o envolvimento com as comunidades dessas regiões.

“Com esse estudo entenderemos como as espécies estão distribuídas nas paisagens da região e quais fatores influenciam na definição dessa configuração, esses resultados são fundamentais para o planejamento de paisagens multifuncionais, ou seja, aquelas que garantam a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, que são essenciais para o ser humano”, explicou Alexandre Uezu, responsável pela pesquisa e coordenador do projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas – com patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental e Governo Federal.

Novas tecnologias

O estudo inicia com os gravadores autônomos, que permitem a coleta de dados automatizados e, em vários locais, simultaneamente. A cada 10 minutos grava-se por 1 minuto, durante o período de 21 a 30 dias. Esse material vai para ‘a nuvem’, onde as vocalizações são armazenadas e analisadas. Outra novidade da pesquisa é que será utilizada inteligência artificial para identificar os sons do Cantareira e dar mais qualidade, rapidez, escala e eficiência aos estudos de biodiversidade. A plataforma de análise das gravações será o ARBIMON (Rede Remota Automatizada de Monitoramento da Biodiversidade) uma tecnologia de análise acústica desenvolvida para monitorar a paisagem sonora e a presença das espécies. “A ideia é ir ‘treinando’ o software, criando assinaturas acústicas das espécies, para que trabalhe com uma grande base de dados (big data) e identifique onde as espécies estão presentes. Utilizando inteligência artificial é possível retirar amostras e a partir delas fazer a leitura do restante do material, o sistema interpreta, reconhece padrões específicos de vocalização e sons característicos de cada espécie e pode varrer milhares de trechos de gravações e associar os sons com a biblioteca acústica já existente no próprio banco de dados, que é continuamente atualizado pelos pesquisadores. No total, temos mais de meio milhões de gravações que serão analisadas só no Cantareira”, explicou Alexandre Uezu.

A instalação dos gravadores nas paisagens do Cantareira está acontecendo durante os períodos de grande atividades das aves entre os meses de novembro e fevereiro e conta com a participação de pesquisadores de diferentes instituições e alunos de mestrado, ela é parte importante da pesquisa que visa avaliar a capacidade da oferta dos serviços ecossistêmicos considerando diferentes composições e configurações das paisagens. “Essa pesquisa une novas tecnologias de amostragem da biodiversidade e perguntas científicas aplicadas, buscando indicar rumos, pelo manejo das paisagens, onde seja possível a conciliação da conservação da biodiversidade com as paisagens produtivas”, finalizou o pesquisador.