O Sistema Cantareira é formado por cerca de 230 mil hectares, distribuídos entre 7 municípios nos estados de São Paulo (Bragança Paulista, Nazaré Paulista, Piracaia, Joanópolis) e Minas Gerais (Extrema, Camanducaia e Itapeva). A chave para a segurança hídrica do Sistema que abastece mais de 7 milhões de pessoas está no solo. Para manter o nível do Cantareira mais estável, a água precisa infiltrar e se manter armazenada na terra, sendo liberada aos poucos para os reservatórios. E para que isso possa ocorrer é preciso restaurar solos compactados e degradados. 

Por este motivo proprietários, produtores e sucessores rurais são essenciais para a conservação dos recursos hídricos da região. O uso do solo é um dos pontos mais importantes a serem trabalhados na região. No dia 18 de agosto o Semeando Água – uma iniciativa do IPÊ, Instituto de Pesquisas Ecológicas patrocinado pela Petrobras, por meio do programa Petrobras Socioambiental – realizou uma oficina de Sistemas Produtivos e Desenvolvimento Econômico Territorial na sede da organização, em Nazaré Paulista. O evento reuniu os novos “Semeadores de Água” que entraram como parceiros no terceiro ciclo do projeto, que se iniciou em 2021. Esse encontro, que chamamos de Culminância, foi realizado para o encontro de sinergias entre suas atividades.

 

O ingresso de novos Semeadores de Água tem início com o planejamento das propriedades rurais, que é realizado pelos proprietários em parceria com a equipe do projeto Semeando Água. Este planejamento é elaborado a partir do Cadastro Ambiental Rural (CAR), envolvendo a adequação legal das propriedades em face às diretrizes do Código Florestal. A partir de um mapeamento realizado pelas imagens de drone e da visita às propriedades, são definidas as áreas de preservação permanente, que envolvem topos de morro, entorno de nascentes e corpos d’água. A vegetação é essencial nestas áreas para proteção do solo e dos corpos hídricos e para aumentar a infiltração da água no solo. Contribuir para a produção de água é de interesse dos próprios produtores rurais e de todos que são abastecidos pelo Sistema. 

Nessas áreas a restauração florestal é planejada com espécies nativas da Mata Atlântica que se desenvolvem bem na região, aliando a conservação a utilização de seu potencial econômico. Os parceiros também recebem assistência técnica para o planejamento dos Sistemas Produtivos Sustentáveis que pretendem implementar, melhorar ou expandir. Entre as alternativas estão o Manejo de Pastagem Ecológica, Sistemas Agroflorestais, Fruticultura e Silvicultura de espécies nativas da Mata Atlântica.

O planejamento das propriedades considera os aspectos econômicos, através da análise do potencial de cada área, assim como das habilidades dos produtores, disponibilidade de mão de obra e mercados potenciais. O aumento da produtividade e diversificação da produção são estratégias para aumentar a lucratividade. “Uma propriedade rural é um espaço multifuncional, que tem o potencial de abranger várias atividades.” ressalta Dercílio Pupin, Semeador de Água que comercializa orgânicos em sua propriedade familiar no município de Piracaia. Também desenvolve atividades de turismo rural, educação ambiental, consultorias e apoio a produtores que também desejam trilhar o caminho da sustentabilidade.

Simone Tenório, coordenadora de Políticas Públicas e Desenvolvimento Econômico Territorial do projeto Semeando Água apresentou alternativas de produção e beneficiamento de produtos como: mel, chás, óleos essenciais, geléias e polpas de frutas. Tenório relembra que

 

“É possível um desenvolvimento baseado na conservação dos recursos naturais através de uma utilização consciente e sustentável. Neste cenário as alternativas econômicas precisam ser inovadoras, com base na produção regenerativa e em negócios de baixo carbono a fim de preservar os recursos necessários para a geração de renda, possibilitando a permanência destes produtores em suas propriedades.”

Tanto os Sistemas Agroflorestais como as Restaurações Ecológicas são compostos por espécies nativas da região, que podem ser utilizadas para a produção de frutos, madeira e mel. Os plantios de espécies nativas da Mata Atlântica atraem a fauna local, que atuam como polinizadores e dispersores de sementes. As polpas e geleias da Mata Atlântica possuem grande potencial de gerar valor econômico, sendo ainda pouco comercializadas e conhecidas. Chamar atenção para a riqueza da região é uma estratégia de valorização dessas espécies, assim como dos produtores que atuam em sinergia com a natureza, através de um resgate da história gastronômica local. 

Por estarem próximos à região metropolitana de São Paulo, as oportunidades de comercialização dos produtos são amplas, devido à facilidade logística. Além disso, a região tem uma forte vocação turística, recebendo os moradores da Região Metropolitana de São Paulo nos finais de semana e feriados. O mercado consumidor desses produtos é um ator importante dessa estratégia, que alia conservação ambiental e produção agrícola. Ao adquirir produtos do Cantareira, os consumidores também atuam como protetores do Sistema, ao incentivar uma agricultura regenerativa, que melhora o solo e preserva os recursos hídricos e a biodiversidade, promovendo benefícios socioeconômicos para todos os setores da sociedade.